Uma pergunta e muitas respostas sobre Eloá.
“-
Quem
matou Eloá?”
“-
Foi o namorado dela, Lindemberg
Alves.”
O
“caso Eloá” aconteceu em meados de 2008, e
quase dez anos se passaram pra gente perceber que a resposta de “Quem
matou Eloá?”, não pode ser dada de forma simplista, rápida e
ríspida.
Esse
texto, é fruto de muita reflexão, advinda do sofrimento e da
indignação ao rever as cenas desse crime ao assistir ao
documentário
lançado no ano de 2015, da diretora
Lívia Perez,
que leva no nome essa mesma pergunta: Quem
matou Eloá?.
Eloá e
Lindemberg, personagens de uma história REAL. Uma tragédia que
encontrou na sociedade brasileira do século XXI, expectadores
emocionados, ávidos pra assistir o desfecho de uma história, que
mesmo sem saber, acontece bem ao lado deles. Uma história que se
repete, que mata e machuca, uma história que por muito tempo a
sociedade chamou de “crime passional”.
-Que
tipo de sociedade cria argumentos para nos fazer acreditar que a
motivação de um crime é o amor?… resposta triste eu diria: -É
tipo a nossa, a mesma que assiste em rede nacional a glamourização
da morte de uma adolescente de 15 anos. A mesma que repete “- Em
briga de marido e mulher não se mete a colher!”
Dialogando com
o roteiro do documentário, trago aqui 3 pontos para nos ajudar a
construir uma resposta pra essa nossa pergunta:
1.
A polícia (representante do Estado): Olhando
as imagens das negociações, percebemos que os policias não viam em
Linderberg um assassino em potencial, tratavam o sequestrador como um
jovem apaixonado, passando por uma crise amorosa. Os policiais,
homens que ali estavam, representaram assim muito bem o papel do
patriarcado.
2.
A mídia:
Os canais da televisão aberta transmitiram durante 5 dias o
sequestro sob
o pretexto de informar. A
mídia transformou a história em um espetáculo com
direito a entrevista ao vivo com o sequestrador, repetições sobre o
caso, divulgação sobre a ação da polícia, fazendo assim o papel
de ajudar o Lindenberg e reforçar a naturalização da violência
contra a mulher em rede nacional em troca do aumento nos números de
audiência.
3.
A narrativa romântica: O termo
feminicídio refere-se ao homicídio de mulheres, que morrem pelo
simples fato de terem nascido mulher. Apenas no ano de 2015 esse
termo começou a fazer parte da legislação brasileira, em 2008, ano
da morte de Eloá, esse crime ainda era chamado pela lei de crime
passional.
Segundo
o IPEA, mais de 43 mil mulheres foram assassinadas no nosso país
entre 2000 e 2010, Eloá entra nessa estática, um amontoado de
números
que nos faz perceber que mulheres são assassinadas todos os dias, e
a motivação não é amor, a motivação é o poder, a posse, é o
machismo, o machismo que aqui recebe o nome de amor…
Esses
são apenas três pontos de uma pergunta, que querem fazer parecer
que possui uma resposta óbvia. Mas pra mim não é uma resposta que
cabe num papel, ou em uma página na internet, é a resposta que
acaba com vidas, e que nunca vem sozinha… É pesado, mas tenho que
dizer, violência não é só um tiro na cabeça… o machismo ás
vezes põe um fim na história, mas eu não quero deixar que
esqueçam, não quero que simplifiquem,
quero que a resposta ecoe:
“O
MACHISMO MATA! A SOCIEDADE, A MÍDIA E A POLÍCIA MACHISTA TAMBÉM
MATAM!”
Link
para o documentário:
http://portacurtas.org.br/filme/?name=quem_matou_eloa
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