Aquele em que brigo com um amigo...


  Semana passada eu briguei com um amigo, nunca havia passado pela minha cabeça uma briga como aquela, bom… minto, eu já tinha repassado e imaginado essa briga na minha cabeça muitas vezes, eu já havia acompanhado ela repetidas vezes pela internet. Mas o que aconteceu de diferente nessa briga que me fez sentar aqui e dissertar sobre ela? É que dessa vez ela foi bem real, eu a senti e repassei ela na minha cabeça por diversos ângulos durante esses últimos dias, desta vez éramos eu e meu amigo, não personagens distantes da internet. É meus caros, chegou a minha vez de vociferar pessoalmente sobre política.
  Já que essa briga me fez mal, me obrigo a me sentar com o que sobrou dela e refletir. Por que brigamos? Por que não conseguimos conversar sobre política? Juro que me sinto tentada a pensar: “Poxa, todo mundo briga por política. Tudo bem, bola pra frente. Nem quero esse tipo de pessoa na minha bolha, no meu mundinho”. Pronto, assim eu me sentiria bem e poderia fazer outra coisa da minha vida.
  Mas tudo bem… Confesso que me abalou muito sair de uma discussão sobre política, o tema que mais amo conversar nessa vida, sendo xingada e incompreendida, que maldita esquerdista sou eu que não consegue conversar com um trabalhador sobre política, sério mesmo que vou ter que amargar o fato de que minha experiência em debates foi quase toda construída em ambientes universitários, com pessoas que me agregavam muito, mas dificilmente tinham uma visão oposta a minha? Será que devo admitir que não estou sendo feliz nos meus primeiros passos fora da minha bolha esquerdista e universitária?
  Uma das coisas que percebi após a briga é que eu entrei em uma longa discussão onde existiam dois personagem muito bem construídos, tão bem construídos que durante a discussão toda as nossas vivências anteriores foram desqualificadas, eu estava discutindo com um idiota que acredita em toda fakenews de whatsapp e ele estava discutindo com uma professora comunista gayzista abortista que quer trocar o sexo das crianças na escola.
  Então… eu que trato todo mundo que votou no bolsonaro como um idiota que acredita em mamadeira de piroca estava provando do meu veneno e sendo tratada como um personagem medíocre e estereotipado? E a resposta mais irônica é que siim.
  Tive que brigar com um amigo pra perceber o quanto essas brigas acabam sendo superficiais e destrutivas ao mesmo tempo, superficiais pelo fato de que não constroem nada, não nos tiram desse abismo e elas são muito bem aproveitadas pelos que já estão no poder e nós, reles mortais continuaremos nos estapeando por quanto tempo até entendermos que só estamos prolongando nossa estadia nesse poço fundo que nos enfiamos?




Gabriela Ribeiro


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